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10.4.06

o evangelho segundo judas

na década de 50 foi encontrado um manuscrito composto por folhas de papiro escritas no dialecto copta, a antiga língua dos cristãos do egipto. depois de várias aventuras e de muitos anos fechado num cofre de banco a deteriorar-se, acabou por chegar à fundação maecenas for ancient art, na suiça, que é, juntamente com a national geographic, a sua actual proprietária.
a datação por carbono-14 permitiu concluir que o texto remonta ao período entre o fim do século 3º e o início do século 4º, não se acreditando ser o original, que se presume já existir e ser conhecido no século 2º, dadas as referências que santo irineu de lyon faz a estes textos, condenando-os. mantido sob sigilo, o texto está agora a ser traduzido para uma série de línguas por um dos maiores especialista em copta.
o evangelho de judas, presumivelmente escrito por membros de um dos movimentos cristãos gnósticos existentes na primeira fase do cristianismo, foi excluído (a par com outros, como o de tomé, por exemplo) de entre os que a igreja reconhece e define como canónicos (mateus, joão, marcos e lucas) e considerado herético (aliás, como é considerado herético tudo o mais que se desvia dos interesses políticos e económicos da igreja).
os textos parecem apresentar uma forma de entendimento da figura de judas radicalmente distinta da que o cristianismo promoveu. judas é descrito como aquele dos apóstolos que mais próximo estava de jesus, tendo assumido e cumprido a sua "missão", que passava por um papel determinante no processo que levou à "libertação" de jesus (entenda-se que os gnósticos vêem o corpo como a prisão do espírito e, por consequência, a morte como libertação). apesar de ter desejado assumir um outro papel (cobiçava o de pedro), judas cumpriu o plano que jesus traçara e lhe confidenciara (uma espécie de desígnio divino ou destino).
por outro lado, o manuscrito também parece indicar que os sacerdotes judeus não tiveram o papel que lhes é atribuído nos outros evangelhos. no relato dos evangelistas, a traição é situada no momento em que Jesus falava aos seus discípulos no getsémani, ou jardim das oliveiras, fora dos muros de jerusalém, altura em que judas chega, acompanhado de uma multidão armada com paus e espadas. quando se aproxima de jesus, beija-o na face, identificando-o, e permitindo que os enviados dos sacerdotes judeus o prendessem, dando início ao martírio que conduziu à sua morte. em troca, judas teria recebido 30 moedas de prata. mais tarde, atormentado, ter-se-ia enforcado numa árvore.
o evangelho de judas descreve uma captura diferente, feita pelos romanos, e sem que os sacerdotes judeus tivessem tido qualquer intervenção. para além disso, judas não se suicida, sendo perdoado por jesus, que o aconselha a ir para o deserto fazer exercícios espirituais (o que faz algum sentido se pensarmos que jesus ensinou o perdão, mesmo aos inimigos e, tendo perdoado a covardia miserável de pedro, porque não perdoaria a suposta traição de judas?).
segundo alguns especialistas, o evangelho de judas colocaria (e ainda coloca!) em questão muitos dos princípios políticos da doutrina cristã, e permitiria uma reabilitação de judas que, durante séculos, permitiu a cristalização e a promoção do ódio contra o povo judeu, acusado de ter assassinado jesus.
que mais revela este manuscrito (ainda) não se sabe. de qualquer forma, e para quem, como eu, acredita na engenhosa construção de uma doutrina que sempre serviu para manipular e colocar em servência, todos os relatos são importantes, especialmente aqueles que foram repudiados.
e a ver se o judas, coitado, que desde há quase 2 mil anos é castigado em praça pública em cada sábado de aleluia, consegue limpar o nome e, já agora, retirá-lo dos dicionários como sinónimo de traidor.

2 comentários disparatados:

Blogger Ana F. Monteiro disse...

todas as teorias que colocam em questão a igreja católica parecem fazer mais sentido do que a doutrina da própria igreja. eu não tenho dúvida nenhuma de que esta igreja (que é a que melhor conheço) foi criada para manipular as pessoas, promovendo pelo meio a sua ignorância. em particular a das mulheres. afinal, é um credo manipulado por homens. acredito que há muitas histórias "falsificadas" sobre jesus e muito mais para saber sobre ele.

segunda-feira, abril 10, 2006

 
Blogger calózita disse...

iep.

terça-feira, abril 11, 2006

 

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