cada bola mata um, prá galinha e pró perú, quem está livre és mesmo... tu!

24.5.05

lutos, aniversários e nascimentos

a vida gira, revolve-se, translada-se e renova-se. flui, constante, num caos que julgamos dominar.
num curto lapso de tempo, ao meu redor, muito se passa, muito se constrói, apesar de muito se ter desmoronado.
o meu luto tem doído, ultimamente. imagino-o assim como um tumor, redondo, encostadinho às paredes do meu coração, a comprimir as aurículas e os ventrículos. e tem dóido aquelas dores que não suportam palavras. aquelas dores que abominam palmadinhas nas costas. que nos fazem ter vontade de esbofetear quem nos lamenta a sorte, quem nos aconchega com a inevitabilidade da coisa.
hoje, porém, a minha dor consentiu ser remexida sem dispertar em mim instintos assassinos. pelo contrário, olhei aquele ser com muito amor. dentro de uns olhos a minha verdade. toda uma boca de palavras certas, dentes de sílabas, língua de pausas - tudo se disse naquele instante, em frases curtas, doces.
"estás magrinha."
"nunca fui gorda."
"sim. mas agora estás mais magrinha. fininha. encolhidinha."
(sorri)
"eu sei o que é isso. é falta dos miminhos da avó."
...
sim. sinto falta dos miminhos da minha avó. sinto falta dos interrogatórios preocupados ("que almoçaste?"), das acusações em questões nutricionais ("não te andas a alimentar em condições"). sinto falta que me ligue a saber se passo lá, se a vou ver, se vou buscar fruta e miminhos. sinto falta que me diga o que fazer em cada situação distinta, por onde manobrar a galé, em que porto acostar. sinto falta da gargalhada liberta, límpida. sinto falta, até, do corpo que ocupava o seu espaço, vestia a sua roupa, fazia volume nos lençóis da sua cama. sinto falta do tempo em que lhe tomava o braço e lhe amparava os passos doridos, guiando-a por passeios inssurrectos. sinto falta dela. da minha avó e dos seus miminhos.
mas a minha avó partiu. como eu partirei. como todos nós partiremos um dia. a minha avó, agora, não é mais um corpo, uma doença, uma dor, um cuidado. a minha avó, agora, é amor e saudade, alma, memória. para sempre o meu fantasma querido.
e é assim que decido que não vou tolerar lutos feitos tumores a apodrecer-me o coração. quem tem coisas más no coração não pode depois viver e guardar nele as coisas boas que a vida também dá.
num curto lapso de tempo, ao meu redor, e apesar de muito se ter desmoronado, muito se passa, muito se constrói. pessoas queridas comemoram aniversários (sinassss lindasss, mil bejufas de parabéns!). pequenos seres aguardam a sua vez de vir constatar como é complicado andar-se por aqui (a beatriz está quase, quase, quase, a pular para fora da barriguita inchada da mãe).
a vida gira, revolve-se, translada-se e renova-se. vou tentar ser mais feliz. e até pode ser que engorde!

2 comentários disparatados:

Blogger K@ disse...

simplesmente... lindo.

terça-feira, maio 24, 2005

 
Blogger inominável disse...

Se calhar devias era engordar como a mãe da Beatriz... :) Os bébés são tão bonitos (passada a primeira semana em que parece que ainda estão a recuperar do tempo que viveram espalmados e amassados nas barrigas!!!!) E os teus bébés (sim, sim, no plural!) já vão nascer a dizer coisas lindas e a sonhar com pituxinhas e pituxinhos!!!

terça-feira, maio 24, 2005

 

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